quinta-feira, 29 de abril de 2010

† Revolta da Vacina †


Revolta da Vacina

MOTIM POPULAR: ÍMPETO

O fator imediatamente deflagrador da Revolta da Vacina foi à publicação do decreto de regulamentação da aplicação da vacina obrigatória contra a varíola. O projeto original tinha sido apresentado cerca de quatro meses antes no Congresso. A medida era de interesse do governo, que dispunha de ampla maioria no congresso, a pequena oposição parlamentar, a imprensa não-governista e a população da cidade.
O argumento do governo era de que a vacinação era de interesse para a saúde publica, não tinha como se duvidar disso, pois havia vários focos epidêmicos de varíola no Brasil, o maior deles no Rio de Janeiro.
Os interlocutores da oposição respondiam hostis ao governo, que os métodos de aplicação do decreto de vacinação eram terríveis, os soros e os aplicadores pouco confiáveis e os funcionários manifestavam instintos brutais e moralidade discutível, esses maus exemplos vinham da campanha anterior pela extinção da febre amarela. Os opositores diziam ainda mais, que se o governo acreditava plenamente nas qualidades e na necessidade da vacina, deixasse a cada consciência a liberdade de decidir ou não pela sua aplicação, podendo escolher as condições que melhor conviessem para recebê-la, eles não estavam contra a vacina, cujo reconheciam ser importante mais sim contra as condições a sua aplicação.
Lauro Sodré, senador pelo Distrito Federal, ex-militar. Positivista e líder maçom, se tornou uma das figuras centrais desse episódio revolucionário, alertava para o aspecto opressor da lei. Barbosa Lima, de origem também militar e positivista, tinha enorme prestigio no Rio de Janeiro, tanto pela sua preocupação com a legislação social de proteção com as camadas populares e trabalhadoras, quanto por seu talento como orador. Ressaltava também o horror moral de uma sociedade extremamente recatada, onde ver suas mulheres, mães irmãs, filhas, tias, avós, serem manipuladas por estranhos em suas partes “intimas” do corpo, partes essas que causava constrangimento somente em anunciá-las como: braço, coxas, nádegas, ele reafirmava em tom hostil, “lei obscena, lei... ignominiosa (...)”.
O que é notável, mesmo elementos conservadores, cultos e bem informados, como Rui Barbosa, mostrava bastante insegurança quanto às características, à qualidade e a aplicação da vacina antivariólica, e se Rui, um representante da mais elevada elite do país, demonstrava temeroso de submeter-se a uma vacina, da qual demonstrava saber apenas que continha em si o próprio vírus da varíola, não se pode imaginar os temores equivalentes e ampliados dentre as classes populares.
Para ajudar ocorre um fato suspeito que ganha uma enorme repercussão. Uma mulher morreu no mês de julho, pouco após ter recebido a vacina antivariólica, e o medico – legista atribuiu como causa do falecimento um estado de infecção generalizada decorrente da vacinação. O impacto foi tão grande que o Dr. Oswaldo Cruz, diretor da saúde publica, sentiu-se obrigado a intervir pessoalmente no caso, reexaminando o cadáver ele impugnou o atestado do médico – legista, declarando que o mesmo havia agido de má fé, visto que o autor era positivista e simpatizante da resistência, o caso fica sem explicação e esse caso vira política.
O resultado dessa campanha de agitação contra a vacinação fez-se logo sentir, no mês de julho, cerca de 23.021 pessoas haviam procurados postos de vacinação, no mês seguinte o numero cai para 6.036 pessoas, isso em meio a uma epidemia forte de varíola. O presidente Rodrigues Alves havia adotado como um dos principais itens de sua plataforma de governo o saneamento completo e extinção de epidemias na capital. A oposição tentou obstruir de todas as formas o andamento do projeto, chegando a vota em mais de 100 emendas, porem a maioria governamental prevaleceu, a lei foi aprovada.
E foi justamente essa regulamentação que desencadeou a revolta, uma vez votada à lei da vacina obrigatória, a definição das normas, métodos e recursos para a sua aplicação ficava na responsabilidade do departamento de Saúde Publica. Um jornal do Rio, A Noticia, publicou em seguida um esboço do regulamento feito por Oswaldo Cruz, a partir daí espalha-se o pânico e a indignação em toda a cidade.
O decreto era extremamente rígido, abrangendo desde recém-nascidos até idosos, o objetivo era uma campanha massiva, rápida: o mais amplo sucesso no mais curto prazo. Não havia qualquer preocupação com a preparação psicológica da população, essa insensibilidade política e tecnocrática foi fatal para a lei da vacina obrigatória.
A regulamentação foi publicada no dia 9, e no próximo dia já se iniciava agitações, grades ajuntamentos se acumulavam na rua do ouvidor e outros lugares públicos, onde havia oradores populares que inflamavam discursos contra a lei da vacina, incitando a rebeldia. A policia foi dada à ordem expressas de proibir e dispensar qualquer reunião publica, e prender os oradores improvisados, tendo a resistência por parte da população. A brigada policial é colocada de prontidão, para patrulharem a cidade.
As agitações foram incentivadas pela Liga Contra a Vacina Obrigatória, sendo esta fundada sob o comando de Lauro Sodré, formada basicamente por operários marítimos. Sodré, influenciado pela sua ambição política, acompanha a tendência de outros lideres trabalhistas, que tentavam no meio da rebelião popular um caminho para sua ambição e de seus companheiros. Através de seus discursos eles pretendiam levar o movimento ate suas ultimas conseqüências, porem assim que começou a revolta a liga perdeu totalmente o controle da rebelião que ajudará a formar.
A Liga Contra a Vacina Obrigatória tinha marcado um “comício”, desafiando a policia porem eles não apareceram, alguns oradores populares começaram a se destacar entre a multidão, que cada vez mais sua amontoava, e a policia é instruída para prender os manifestantes e dispersa a multidão, os populares reagem a essa ação policial com confronto, diante disso a cavalaria, empunhados com sabre, é ordenada a reagir, se tem muitos feridos e um tumulto generalizado, o comercio fecham as portas e os grupos populares se dispersam pelas ruas centrais.
O combate foi intenso e a policia não conseguia assumir o controle da situação, os populares se armavam com pedras, paus, ferros instrumentos, enfim de tudo que podiam pegar e usar como arma das reformas que estavam sendo feitas, os policiais se armavam com carabinas e de piquetes de lanceiros. A população acuada se refugiada em casas vazias que tinham perto das obras, pelos becos estreitos, onde a ação policial se tornava impossível.
Por volta das 8 horas da noite cerca de 3000 pessoas se junta para uma reunião da Liga, após uma serie de discursos, a massa compacta desfilava nos centros da cidade gritando palavras de ordem e dirigindo-se para o Palácio do Catete, sede do Governo da República. Batalhões de policia fortemente armados se dirigiram para o Palácio do Catete e a residência do ministro da Justiça, o exercito é chamado para reforçar a guarda. Essa mesma massa de populares para e começa a gritar ordens contra o governo, à vacina e a política.
Depois de algum tempo a população toma o rumo novamente para os centros da cidade, no meio do caminho eles cruzam com o carro do chefe do policia, Cardoso de Castro, escoltado por lanceiro, insultos, provações e tiros da população são respondido com carga de lanceiros. A multidão dispersada pelo confronto, passa a apedrejar os bondes e as lâmpadas da cidade, a cidade se transforma em uma praça de guerra.
Lauro Sodré e Barbosa Lima tentam garantir a liderança do movimento popular, convocam uma grande concentração de populares na sede do centro das Classes populares. A população passa a exigir a volta do republicanismo fervido, contra os barões do café e credores estrangeiros, representados com a linha do florianismo, do trabalhismo e da aliança com a jovem oficialidade militar, era como a liderança da liga usufruía dos tumultos para realizarem seus projetos políticos. Para os populares não se tratava de escolher lideres para ou plataformas, eles queriam o mínimo de respeitos à sua condição de seres humanos.
Nos três dias seguintes a rebelião tomaria um vigor inimaginável, numa fúria contra quase todos os veículos que se encontrava nas ruas da cidade, destruindo todas as lâmpadas, arrancando os calçamentos das ruas, onde eram erguidas redes de barrigadas e trincheiras interligadas, roubando delegacias e repartição publica, distribuindo armamento, roubado da policia, entre a população, às vezes os próprios comerciantes davam de bom grado essas armas e outras ajudas possíveis. As autoridades perdem o controle da região central e dos bairros periféricos da cidade.
O governo em meio ao caos da desordem reage usando de todos os recursos disponíveis para a repressão, como a força policial não estava dando conta ele convoca reforço das tropas da marinha e do exercito, não foi suficiente, o governo então pede ajuda as unidades que estavam nas regiões fluminense, paulista e mineira, não sendo suficiente ainda ele tiveram que chamar toda a corporação do corpo de bombeiros. A resistência era tanta que teve que utilizar de meios mais extremistas, bombardeando os bairros e regiões fronteiras da cidade por meio de embarcações de guerra. Somente através dessa extrema força repressiva que o governo pode aos poucos sufocar a insurreição.
No dia 14 acontece outro fato preocupante uma sedição militar, motim. O que aconteceu é que tanto a polícia quanto os sediciosos estavam cansados e assombrados com a intensidade da revolta popular. Ambos foram atrapalhados pelo motim, a policia porque se dispersou de suas investigações, e os conspiradores porque perderam as condições de controle e de previsibilidade, indispensável para garantir o sucesso dos movimentos controlados e o que lhes permitiriam a tomada do poder.
A idéia de tomada do poder estava sendo organizada pelos jacobinos e florianistas, porem sendo financiada pelos monarquistas. Os monarquistas incentivavam a conspiração e mantinha as agitações anti-governamental na imprensa, eles esperavam herdar o poder como os únicos capazes de restaurar a ordem.
O golpe militar estava marcado para acontecer no dia 15 de novembro por duas razões: Primeiro porque os conspiradores queriam formar uma “nova Republica”, voltando às idéias originais de seus fundadores positivistas, o 15 de novembro, data simbólica da primeira vitória desse grupo, marcaria agora o renascimento daquele espírito perdido e manchado pela politicagem grosseira dos civis. Caberia ao general Sylvestre Travassos incitar a rebeldia, recebendo o apoio de oficiais combinados, no desfile comemorativo do dia 15 de novembro. Porem o tumulto popular veio atrapalhar o plano e os desfiles cancelados.
Os militares e políticos envolvidos reúnem-se para decidirem o curso do golpe, decidiram aproveitar-se do momento em que as rebeliões desviavam a atenção do governo, para sublevar os jovens das escolas militares, e com eles marcharem em direção ao Catete depondo assim o presidente e formando um novo regime.
O resultado dessa manifestação foi desastroso para os conspiradores. Gomes de Castro foi preso ao tentar um sublevar os cadetes da Escola de Realengo. Já o general Travassos, acompanhado de Lauro Sodré e Alfredo Varela, conseguem depor o general Macedo Constellat, comandante da Escola Praia Vermelha, tendo o apoio de cerca de 300 alunos. Eles percebem que tem muita pouca munição, tentam então entrar em contato com outras escolas, a fim de conseguir munição, armas e reforços, porem não consegue este apoio, decidindo marcham assim mesmo em direção ao palácio, porem eles demoraram muito e o governo já havia sido informado do motim e se reforçou de todas as formas possíveis a sede administrativa.
O governo envia uma força de infantaria para dar o primeiro combate à coluna que vinha da Praia Vermelha, a tropa rebelde ao saber da movimentação do adversário, parou na Rua da Passagem a sua espera. A noite era escura e chuvosa, os postes de luz estavam todos apagados, não havia qualquer visibilidade. O oficial ordenou que as tropas disparassem, os alunos responderam ao fogo, seguindo de rápidos e intensos tiroteios às escuras, deixando inúmeros mortos e feridos de ambos os lados. O general Travassos e o tenente-coronel Lauro haviam sido gravemente feridos, os alunos retrocederam à Escola da Praia Vermelha, onde passaram a noite sobre fogo de canhões de Deodoro e das metralhadoras da marinha. Estava fracassada a tentativa de motim militar.
Após o motim, o governo vai tomando aos poucos o controle da cidade.
No dia 16 o governo toma a decisão mais sensata e revoga a obrigatoriedade da vacina antivariólica. Dada à repressão sistemática e deflagradora, o movimento vai terminando ate sua completa extinção, tão naturalmente quanto começaram. Os militares acusados de motim são detidos e aprisionados, a Escola da Praia Vermelha é fechada e seus alunos exilados para regiões de fronteiras e em seguidas desligados do exercito, os lideres civis são encarcerados e processados por tribunais militares.
A cidade ressurge da revolta irreconhecível, calçamentos retirados, casas ruídas, portas arrombadas, trilhos arrancados, restos de bondes, crateras de dinamite, ruína de prédios incendiados, manchas de sangue, cavalos mortos, enfim a cidade tava um caos completo, o cenário de uma guerra insana. Um numero incalculável de mortos e feridos, perda de danos matérias inestimáveis, uma atmosfera geral de terror que se faria sentir ainda até dois anos mais tarde.



Revolta da Vacina em poucas palavras



O inicio do período republicano da Historia do Brasil foi marcado por vários conflitos e revolta populares. O Rio de Janeiro também não ficou de fora, no ano de 1904, estourou um movimento popular, cujo motivo foi à campanha de vacinação obrigatória, imposta pelo governo federal, contra a varíola.
A situação do Rio de Janeiro, no início do século XX, era precária. A população sofria com a falta de um sistema eficiente de
saneamento básico. Este fato desencadeava constantes epidemias, entre elas, febre amarela, peste bubônica e varíola. A população de baixa renda, que morava em habitações precárias, era a principal vitima deste contexto.
Preocupado com esta situação, o então presidente Rodrigues Alves colocou em prática um projeto de saneamento básico e reurbanização do centro da cidade. O
médico e sanitarista Oswaldo Cruz foi designado pelo presidente para ser o chefe do Departamento Nacional de Saúde Pública, com o objetivo de melhorar as condições sanitárias da cidade.
A campanha de vacinação obrigatória é colocada em prática em novembro de 1904. Embora seu objetivo fosse positivo, ela foi aplicada de forma autoritária e violenta. Em alguns casos, os agentes sanitários invadiam as casas e vacinavam as pessoas à força, provocando revolta nas pessoas. Essa recusa em ser vacinado acontecia, pois grande parte das pessoas não conhecia o que era uma vacina e tinham medo de seus efeitos, fora a questão de estarem em uma sociedade bem reservada, onde mostrar pernas, braço, nádegas era totalmente vulgar.
A revolta popular aumentava a cada dia, impulsionada também pela crise econômica (desemprego, inflação e alto custo de vida) e a reforma urbana que retirou a população pobre do centro da cidade, derrubando vários cortiços e outros tipos de habitações mais simples.
As manifestações populares e conflitos espalham-se pelas ruas da capital brasileira. Populares destroem bondes, apedrejam prédios públicos e espalham a desordem pela cidade. Em 16 de novembro de 1904, o presidente Rodrigues Alves revoga a lei da vacinação obrigatória, colocando nas ruas o exército, a marinha e a polícia para acabar com os tumultos. Em poucos dias a cidade voltava à calma e a ordem.







Minha Opinião


A revolta da vacina foi à revolução popular, mais insana que eu já soube uma revolta que ocorreu apenas por falta de informações, e de ma fé de políticos que utilizou da “inocência” e medo dos populares para tentar atingir seus objetivos políticos.
Apesar do livro de Nicolau Sevcenko, ser um pouco cansativo, ele demonstra detalhadamente, talvez um com detalhes ate de mais, os fatos ocorridos durante o desfecho dessa revolta.
Percebemos como os princípios de uma sociedade, aliada ao medo e falta de informações pode gera um caos completo, eu acredito que, apoiado na leitura do livro, essa revolta e seus motins mataram mais gente do que a própria doença, varíola, em si.
Porem não se pode atribuir essa revolta toda apenas a obrigatoriedade da vacina, atribui-se também ao descaso do governo para com a população, como o próprio Sevcenko disse na pág.23 “(...) Para os amotinados não se tratava de selecionar líderes ou plataforma, mas, mais crucialmente, de lutar por um mínimo de respeito à sua condição de seres humanos (...)”.






“O HOMEM SÓ É MAU POR FALTA DE CONHECIMENTO”


Resumo baseado no livro: A Revolta da Vacina de Nicolau Sevcenko


Professor Marcos

Nenhum comentário:

Postar um comentário